LIÇÃO 10 – O PERIGO DA BUSCA PELA AUTORREALIZAÇÃO HUMANA - 3º TRIM. 2014
(Tg 4.1-10)
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos que a busca pela autorrealização humana é nociva apenas quando é vista como um fim em si
mesma. Em Tiago 4.1-10 encontramos o apóstolo ensinando que aquilo que pedimos a Deus pode não ser concedido se as
nossas motivações forem equivocadas. Tiago exorta ainda que os cristãos não deveriam estar em conflitos uns com o
outros; e, por fim, ele lembra que aqueles que decidiram seguir a Cristo devem se desligar completamente do mundo, pois
o Senhor exige exclusividade.
I – DEFINIÇÃO DA PALAVRA AUTORREALIZAÇÃO
O Aurélio diz que a palavra realizar significa: “alcançar seu objetivo ou ideal” (FERREIRA, 2004, p. 1190).
Logo, a “autorrealização” pode ser definida como “ato ou efeito de realizar a si próprio”. “A realização profissional,
pessoal e o desejo de uma melhor qualidade de vida são anseios legítimos do ser humano. Entretanto, o problema existe
quando esse anseio torna-se uma obsessão, um desejo cego, colocando o Senhor nosso Deus à margem da vida para eleger
um ídolo: o sonho pessoal” (SILVA, 2014, p. 71). Em Tiago 4.3 vemos o apóstolo fazer a seguinte exortação: “Pedis, e
não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”. O referido versículo expressa a busca desenfreada
e nociva das pessoas pela autorrealização material. “A ideia central é que eles (os cristãos) desejavam a abastança
financeira, a fim de se ocuparem mais diligentemente na busca pelos prazeres” (CHAMPLIN, 2005, p. 63).
1.1 Ser cristão significa priorizar a busca pelas coisas espirituais. Faz parte dos ensinamentos tanto do AT quanto do
NT o incentivo a prioridade pelas coisas espirituais (Is 55.1-3; Ag 1.2-8; Mt 6.33; Cl 3.1-3). O Aurélio diz que
“prioridade” significa: “qualidade duma coisa que é posta em primeiro lugar, numa série ou ordem” (FERREIRA,
2004, p. 557). No texto de Mt 6.19-24, Jesus fala da inutilidade de se esforçar DEMASIADAMENTE para ajuntar
tesouros nesta vida, pois aqui, a traça e a ferrugem podem consumir, e o ladrão, pode roubar. Ainda nesta passagem, o
Senhor diz que as riquezas podem dividir o coração do crente, de forma que ele venha a ter dois senhores, a saber: Deus e
as riquezas. Isso é pecado de idolatria (Cl 3.5; Ef 5.5).
1.2 Ser cristão não é viver à parte da realização material, mas buscá-la com equilíbrio. Ser um crente espiritual não
significa viver alheio as realizações terrenas. A Bíblia nos ensina a buscarmos as coisas materiais com moderação
(Pv 30.7-9; Rm 12.16; I Tm 6.8). O Aurélio diz que “equilibrar” figuradamente significa: “moderação, prudência,
comedimento; autocontrole, autodomínio” (FERREIRA, 2004, p. 777). Temos vários exemplos bíblicos de homens que de forma comedida usufruíram de prestígio social e riquezas; e, ao mesmo tempo, conservaram a sua fé. Eis alguns:
Abraão (Gn 13.2; Tg 2.23); Jó (Jó 1.1-3; 20-22); Daniel (Dn 1.17-21; 2.48); dentre outros (I Cr 29.1-3; II Cr 17.5; 32.27).
II – O PROBLEMA DOS CONFLITOS
Em sua epístola, Tiago tratou de diversos problemas entre os cristãos, inclusive a discriminação na igreja (Tg 2.1-
12) e o uso indisciplinado da língua (Tg 3.1-18). Agora, volta a atenção para as “guerras e contendas que há entre vós”
(Tg 4.1). Pelas palavras, o apóstolo deixa claro que havia divisões e disputas carnais entre os crentes. Ele nos fala sobre
três tipos de conflitos que estavam acontecendo no seio da igreja. Vejamos cada um deles detalhadamente:
2.1 Conflitos pessoais (Tg 4.1). Tiago nos mostra que a fonte dos conflitos exteriores surgem de dentro do próprio
homem (Tg 4.1-b). Veja também (Mt 15.18,19; Mc 7.20-23; Gl 5.20). “A palavra “prazeres” não significa
necessariamente paixão sensual; nesse caso, é apenas cobiça. A cobiça está em operação nos membros do corpo e
estimula a carne e gera problemas” (WIERSBE, 2008, p. 765).!A carne é a natureza caída, isto é, as paixões, os desejos e
apetites desordenados que nela residem (I Co 10.13; Tg 1.14,15; Gl 5.16-21). Paulo exorta-nos a entregar os membros de
nosso corpo ao Espírito Santo, a fim de não cumprimos os desejos da carne (Rm 6; Gl 5.16-26; Ef 4.22-30).
2.2 Conflitos interpessoais (Tg 4.1,2). “As causas das guerras e contendas não são meramente econômicas ou
intelectuais, mas morais. Como não havia nenhuma guerra civil nessa época, Tiago parece considerar principalmente a
ideia de “brigas pessoais e ações judiciais, rivalidades e facções sociais e controvérsias religiosas” (BRUCE, 2009, p.
2157). Em Tiago 4.1 a expressão “guerra” no grego “polemos” refere-se a “querelas e rixas”, enquanto “contendas” no
grego “machai” traduz-se como “conflitos e batalhas”. O apóstolo tinha em mente não as guerras entre as nações mas as discussões e divisões entre os próprios cristãos. A Bíblia exorta-nos a viver em comunhão, unidade e diante de
possíveis questões e desentendimentos praticar o perdão (Sl 133; II Co 13.11; Ef 4.2; Fp 2.1-4; Cl 3.13).
2.3 Conflitos espirituais (Tg 4.4). Tiago deseja chocar os leitores quando os chama de infiéis, termo que também pode
ser traduzido por “adúlteros”. É bom dizer que “a infidelidade em questão é caracterizada pela amizade do mundo
baseada em seus desejos e prazeres. Tiago condena tal transigência e fingimento. É impossível servir a Deus e aos desejos
do mundo, pois não se pode ser ao mesmo tempo amigo e inimigo de Deus. É preciso escolher” (TOKUMBOH, p. 1553,
2010). Nesse caso, o conflito não era pessoal, nem interpessoal, mas espiritual, pois alguns daqueles cristãos, viviam
indecisos sobre a quem deveriam servir. Todavia, o apóstolo diz que Deus não aceita dividir o nosso coração com o
mundo, pois Ele nos quer exclusivamente para si (Tg 4.5; I Pe 2.9).
III – A POSTURA DO CRISTÃO EM RELAÇÃO AO MUNDO
“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?” (Tg 4.4). O
apóstolo não faz referência aqui ao adultério físico, mas sim ao espiritual. Todo o conceito está baseado na ideia do
Antigo Testamento que apresenta ao Senhor como o marido de Israel e a Israel como a esposa do Senhor. Esta figura é
comum em todo o Antigo Testamento (Is 54.5; Jr 3.1-5; Ez 23; Os 1-2). Neste mesmo sentido espiritual o Novo Testamento
fala de “geração má e adúltera” (Mt 12.39; 16.4; Mc 8.38). Esta figura foi introduzida no pensamento cristão com o
conceito da Igreja como esposa de Cristo (II Co 11.2; Ef 5.24-28; Ap 19.7; 21.9). “Esta forma de expressão pode ofender
a sensibilidade contemporânea, mas a figura de Israel como esposa de Deus, e da Igreja como esposa de Cristo têm em si
mesmo algo de precioso. Significa que desobedecer a Deus é como quebrantar os votos do matrimônio” (MOODY, sd, p.
118 – acréscimo nosso). A Bíblia diz qual deve ser o comportamento do cristão em relação ao mundo:
POSTURA DO CRISTÃO REFERÊNCIAS
Não ganhar o mundo às custas da alma Mt 4.8-10; Mt 16.26
Não ser do mundo Jo 15.19; 17.14,16
Ser crucificado para o mundo Gl 5.24; 6.14
Brilhar como a luz no mundo MT 5.13-16; Fp 2.15
Negar os desejos mundanos e viver justamente Tt 2.12; Tg 1.27
Não ser amigo do mundo Tg 4.4
Escapar da poluição e corrupção do mundo II Pe 1.4; 2.20
Não amar o mundo nem as coisas que há nele I Jo 2.15-17
Ser como Cristo no mundo I Jo 4.17
Vencer o mundo com a fé I Jo 5.4-5
Não se conformar com o mundo Rm 12.1,2
IV – QUE ATITUDES DEVEMOS TOMAR PARA VENCER O DIABO, O MUNDO E A CARNE
4.1 “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). A ordem do verbo “sujeitai-vos” exige
uma ação passiva, a qual implica alinhar-se sob a autoridade de alguém. A única maneira eficaz de resistirmos às
artimanhas do Diabo, assim como aos desejos e paixões da nossa própria carne, é nos rendendo incondicionalmente ao
Senhor, em plena devoção (Mt 4.10; 1Pe 5.8,9).
4.2 “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós” (Tg 4.8-a). Esta ordem indica uma ação ativa dos crentes (Is 55.6). Esta
atitude resulta numa reciprocidade de Deus “ele se chegará a vós”. Confira também (Jr 29.13,14; 33.3; Mt 6.6).
4.3 “Purificai os corações” (Tg 4.8-c). A purificação espiritual ocorre no ato da salvação (At 15.9; Tt 2.14) e, por isso,
exige de todo cristão uma purificação pessoal, prática e constante (Lv 20.7; Js 3.5; II Co 7.1; I Ts 4.3; Hb 12.14).
4.4 “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.10). Jesus dignificou a humildade nos seus ensinos
(Mt 18.4; Fp 2.5-11). Tiago e Pedro afirmam que o resultado da humilhação presente é a exaltação futura (I Pe 5.6).
CONCLUSÃO
Como pudemos ver, ser cristão na perspectiva de Tiago significa priorizar as coisas espirituais; não estar em
conflito com os irmãos; e, desvencilhar-se completamente do mundo para servir somente a Cristo, pois é assim que Ele
requer.
REFERÊNCIAS
• STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
• CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
• ADEYEMO, Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. MUNDO CRISTÃO.
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